A importância de passar tempo sozinho – a diferença entre solidão e solitude!

O ser humano é um ser social, daí ser tão satisfatório estarmos rodeados de pessoas – amigos, família, um(a) companheiro(a). Está provado que interagir com pessoas melhora a imunidade, reduz o stresse e aumenta o bem-estar e a qualidade de vida. Pala além disso, as desvantagens de estar sozinho também são amplamente notadas: é visto por muitos como algo negativo, sinónimo de sofrimento, associado até à doença mental.

Por outro lado, e apesar de todo o estigma social, passar tempo sozinho é algo também necessário e que aporta muitos benefícios para a saúde física e mental. É neste ponto que se torna fundamental distinguir solidão e solitude.

Qual é a diferença entre solidão e solitude?

A solidão implica estar isolado socialmente, mas desejar estar com outras pessoas. A solidão gera uma sensação de vazio, desconforto, tristeza, pensamentos de desesperança, sensação de abandono, falta de afeto e atenção, e ainda sentimentos de inadequação. Neste caso, a solidão pode desencadear problemas de saúde – perturbações de sono, depressão e ansiedade. Um estudo feito no King’s College, em Londres, com mais de 2 mil jovens de 18 anos mostrou que os que se sentiam sozinhos tinha o dobro da probabilidade de desenvolverem depressão e ansiedade. Nestes jovens, também foram reportadas mais automutilações e tentativas de suicídio. Outro estudo, da Universidade de Chicago, e uma meta-análise feita na Brigham Young University (EUA) concluíram que levar uma vida solitária aumenta a probabilidade de morte prematura tanto ou mais do que outros fatores de risco conhecidos, como a obesidade.

Por outro lado, na solitude, a pessoa está só, mas não se sente sozinha. O momento é encarado como uma oportunidade de estar consigo mesmo, promovendo o autoconhecimento e refletindo sobre as suas experiências de vida. Um estudo da Universidade de Buffalo (EUA), recorrendo a 295 voluntários, estabeleceu uma relação entre pessoas que gostavam de estar sós de vez em quando com os seus níveis de criatividade. Aqueles que foram classificados como tímidos ou menos sociáveis tiveram menos pontos do que a média no fator criatividade. No entanto, um terceiro tipo de personalidade, chamada pelos investigadores de unsociable (insociável) e definido como uma pessoa que procura a solidão de tempos em tempos e de maneira voluntária, marcaram pontos mais altos na criatividade. A diferença entre este tipo de pessoas e os primeiros é que este é um isolamento realizado por vontade própria e não por medo, falta de vontade de interagir socialmente ou fruto de uma timidez excessiva. Ficar a sós funciona como uma espécie de “carregador de baterias”. É um tempo para reorganizar e elaborar ideias, tomar decisões sem influências externas, descansar, fazer alguma introspeção e promover a renovação emocional e a autoperceção.

Quais os benefícios da solitude?

1. Os seus interesses passam a ser uma prioridade

Estar consigo mesmo tem um papel importante na promoção do autoconhecimento. Estar na sua própria companhia é uma oportunidade única para focar a sua atenção no que realmente deseja, não priorizando as vontades/necessidades dos outros.

2. Aumenta a criatividade

O brainstorming em grupo é considerado uma das melhores formas de gerar novas ideias, mas alguns estudos apontam que as pessoas são melhores a resolver problemas difíceis quando trabalham sozinhas. Muitas vezes, os esforços grupais têm que chegar a um consenso, deixando de lado o desenvolvimento de ideias individuais interessantes.

3. Melhora a qualidade das relações

As relações familiares, de casal e de amizade são mais fortes e saudáveis quando cada pessoa encontra um tempo para priorizar os próprios interesses. Pausar os contatos sociais é importante para o autocuidado, fazendo com que depois se valorizarem ainda mais essas relações interpessoais.

4. Fomenta a autoconsciência e ajuda a processar emoções

Promove a observação dos próprios pensamentos e emoções. Estar sozinho facilita o distanciamento das vozes e opiniões externas, o que ajuda a ter uma melhor compreensão do que ocorre no interior de cada um.

5. Aumenta a autonomia e a autoconfiança

O estar sozinho torna o ser humano responsável suas nossas próprias decisões. Desta forma, ao experienciar coisas novas “por sua conta e risco” aumenta a autoconfiança, independência e resiliência.


No entanto, estar apenas consigo mesmo pode ser difícil. Somos ensinados desde cedo a procurar o outro e tê-lo como um referencial de nós mesmos. Os momentos de introspeção levam também ao contacto com pensamentos/emoções desagradáveis ou difíceis de suportar. Nem sempre é uma tarefa simples, mas vale a pena ser testada e treinada.

Torne-se proativo em encontrar tempo para si mesmo!

Comece por desligar os aparelhos eletrónicos 10 minutos por dia, e vá aumentando esse período pouco a pouco. Use esse tempo para estar só com os seus pensamentos e emoções e/ou para começar a fazer pequenas coisas sozinho, como ir ao cinema, sair para ler no parque, sentar-se numa esplanada.

Estudos mostram que a capacidade de tolerar o tempo sozinho está ligada a uma maior felicidade, mais satisfação com a vida, e melhor gestão do stress. Indivíduos que praticam a solitude experienciam, portanto, menos sintomatologia depressiva. Incluir momentos de solitude na sua rotina diária não é uma perda de tempo nem um sinal negativo. E quanto mais ocupado for e mais assoberbado se sentir, provavelmente mais vai beneficiar deste isolamento voluntário.


Se sentir dificuldade nesta tarefa, um Psicólogo e/ou um Psiquiatra podem ajudar!