Aproxima-se a época natalícia e com ela a necessidade de fazer mais compras, sejam os enfeites de Natal, as prendas, a alimentação para os dias de festa, entre outros. Nesta altura, podem surgir comportamentos consumistas e o aumento da vontade de comprar. Mas será isso um problema de saúde mental? Vamos falar de compras compulsivas.

Também denominada por oniomania, a Perturbação de Compras Compulsivas refere-se a um conjunto de preocupações, impulsos ou comportamentos de comprar, vivenciados como irresistíveis, intrusivos e/ou sem sentido, que causam sofrimento, consomem muito tempo, interferem significativamente no funcionamento geral e normalmente resultam em problemas financeiros. É um comportamento compulsivo e de dependência, que dá uma gratificação imediata pela satisfação de um desejo, mas que tende a causar um estado de angústia a médio/longo prazo, devido às consequências negativas que daí advêm. Este comportamento decorre, habitualmente, todo o ano e não apenas nas épocas festivas.

Sinais e sintomas de alerta:

• Comportamento repetitivo;

• Pensamentos constantes sobre comprar;

• Sentimentos de ineficácia no controlo do ato de compra;

• Tentativas para resistir ao impulso de comprar, habitualmente sem sucesso;

• Comprar de forma impulsiva e não ponderada;

• Compra de itens repetidos;

• Mentiras e omissões das compras à família/amigos;

• Recorrência a empréstimos bancários ou ajuda financeira imediata de pessoas;

• Uso das compras como objetivo para lidar com as angústias, tristezas e preocupações do quotidiano;

• Sentimentos de culpa após comprar, mas que não impede que volte a acontecer (ciclo vicioso).

O processo de comprar tem a ver com a produção de dopamina – um neurotransmissor ligado à sensação de prazer e motivação – e comprar dá-nos prazer imediato e satisfação, pelo que pode aumentar a vontade de repetição do comportamento. O processo pode evidenciar-se quando as compras acontecem perante uma fragilidade emocional, ou seja, a pessoa compra quando se sente triste, aborrecida ou frustrada, surgindo assim como estratégia compensatória – o alívio das emoções negativas. O objetivo inicial é obter uma sensação de prazer e gratificação, contudo verifica-se que após a compra, a tendência é que surjam sentimentos de culpa (por não ter conseguido manter o controlo), aumento da sensação de mal-estar, a ansiedade e angústia.

Por outro lado, nesta altura do ano, pode haver um aumento significativo no consumo, seja pelas “tradições de Natal” que as pessoas e famílias pretendem manter, seja pelas pressões sociais que induzem as trocas das prendas (por exemplo) ou até pelo próprio apelo permanente ao consumo e à aquisição de bens pelos media e redes sociais, que tem sido agravado pelo facilitismo de comprar.

O marketing e a publicidade são boas “armas” e estão preparadas face aos mecanismos primários do nosso cérebro. Por exemplo, os estudos mostram que eventos como a Black Friday alteram a nossa química cerebral, levando a uma libertação exagerada de dopamina e que pode gerar comportamentos impulsivos. Para além disto, na sociedade atual, a acessibilidade fácil a créditos e a facilidade de comprar (rapidez do processo de compra, através do telefone, televisão e internet) são fatores que potenciam os gastos e os podem tornar excessivos.

Ainda que comprar excessivamente no Natal não faça de nós consumidores compulsivos, deixamos algumas dicas para lidar com esta tendência/comportamento:

• Faça listas de compras simples e objetivas;

• Defina objetivos a curto e médio prazo;

• Avalie bem as campanhas de marketing antes de comprar;

• Avalie se é realmente necessário adquirir aquele produto;

• Estabeleça um limite numerário em termos de gastos;

• Evite usar cartões de crédito;

• Evite ver anúncios de televisão de compras por telefone;

• Evite seguir muitas páginas de vendas online/nas redes socias.

Quando as compras são feitas de forma ponderada e controlada, estamos a falar de algo positivo e saudável, por isso, viva o Natal com maior tranquilidade.

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Fonte imagem: vecteezy.com