Esta pandemia trouxe, entre outras coisas, uma grande variabilidade de emoções, que se foram alterando conforme o momento de cada um e o contexto geral pandémico. Inicialmente, as emoções mais frequentes eram o medo, a ansiedade e a preocupação, pelo desconhecido. Depois, veio a desorganização e consequente necessidade de adaptação a novas rotinas, em isolamento. Com o arrastar das medidas restritivas, surgiu o stress familiar e/ou a exaustão de estar em casa, mas também as vantagens do confinamento. Finalmente, inicia-se agora a fase de desconfinamento, e a ambivalência emocional regressa – por um lado o entusiasmo, alívio e esperança e, por outro, novamente o stress, preocupação e ansiedade, pelo “novo normal” que se avizinha.
Porque é que desconfinar parece um desafio difícil? Até há bem pouco tempo o desejo era voltar às rotinas normais, no entanto existem várias razões pelas quais desconfinar pode trazer medo e ansiedade, tais como:
- – A diminuição da perceção de controlo – as pessoas tendem a sentir-se mais seguras em casa do que na rua, pelo aumento do risco de transmissão do vírus;
- – O medo de uma nova vaga/novo confinamento – e o medo de ser infetado e ficar doente;
- – O sentimento de que nada será igual à realidade pré-pandemia – situações novas são frequentemente geradoras de desconforto e medo;
- – O sentimento de incerteza perante o futuro – o comportamento do vírus ainda não é totalmente previsível;
- – Os sentimentos de perda – com o desconfinamento podem-se perder as mudanças positivas e ganhos no estilo e qualidade de vida;
- – Os novos hábitos – o longo confinamento com novas rotinas pode dificultar o regresso aos hábitos antigos;
- – O regresso a situações que anteriormente geravam stress;
- – A ansiedade resultante das repercussões económicas e sociais do confinamento prolongado.
Apesar de tudo isto, desconfinar é um processo inevitável e necessário. Inclusive, o medo de desconfinar ajuda as pessoas a manter o nível de alerta e cuidado necessários para a adoção de comportamentos de proteção recomendados pelas autoridades de saúde. Por outro lado, níveis muito elevados de ansiedade são contraproducentes. É fundamental encontrar o equilíbrio. Para isso, segue um conjunto de ideias que o podem ajudar a enfrentar o desconfinamento de forma mais positiva:
- É natural que não se sinta “preparado” para desconfinar (cada pessoa tem o seu ritmo);
- Seja paciente consigo próprio e com os outros que o rodeiam (é natural sentirem emoções contraditórias);
- Volte à rotina anterior (as rotinas que são familiares podem ajudar a reduzir os níveis de ansiedade);
- Adapte-se (mantenha as coisas positivas do confinamento e identifique estratégias para se ajustar ao que é novo no dia-a-dia);
- Dê pequenos passos de cada vez (a exposição às situações que causam stress deve ser gradual e planeada);
- Concentre-se naquilo que pode controlar (invista o seu esforço nas coisas práticas que pode fazer, no momento presente, para reduzir a ansiedade enquanto retoma as rotinas antigas);
- Seja assertivo (defina quais os comportamentos que são ou não aceitáveis para si na vida em desconfinamento);
- Siga o seu ritmo (cada pessoa tem o seu tempo próprio de adaptação à mudança, respeite-o);
- Procure sempre o “lado positivo” (mesmo preocupado e receoso, o desconfinamento também tem aspetos bons e que trazem entusiasmo);
- Exercite a sua flexibilidade (seja criativo a adaptar-se, dia após dia, aos desafios que a nova realidade traz);
- Continue a cuidar de si (partilhe as suas preocupações, mantenha um estilo de vida saudável, que inclua exercício físico, uma alimentação e hábitos de sono saudáveis);
- Peça ajuda, se necessário (é natural que precise de ajuda perante situações novas, geradoras de ansiedade e/ou que obrigam a adaptações e mudanças de vida).
Um Psicólogo e/ou um Psiquiatra podem ajudar!