Quando todo o corpo dói! – viver com Fibromialgia

A Fibromialgia é uma doença reumática crónica, que se manifesta, sobretudo, por hiperalgesia (dor excessiva) generalizada, imprecisa e difusa nos músculos e tecidos moles. Esta dor assemelha-se a um ardor intenso e é na maior parte das vezes debilitante. Hoje sabe-se que não existe uma causa única para a Fibromialgia – fatores diversos, combinados ou isolados, podem desencadear e/ou favorecer o aparecimento e o agravamento dos quadros sintomáticos, como: o estado emocional da pessoa (estados depressivos e ansiogenos ou stress); acontecimentos traumáticos (morte de um familiar, divórcio ou desemprego); traumas físicos (um acidente de viação ou uma cirurgia); ou existência de outras patologias associadas.

Estima-se que afete 300 mil pessoas em Portugal, com maior prevalência nas mulheres – a doença existe e o sofrimento é doloroso e intenso, sendo a componente psicológica particularmente importante.

Quais os principais sintomas da Fibromialgia?

• Dor crónica generalizada;

• Fadiga intensa e constante (“Parece que um camião passou por cima de mim”);

• Formigueiros dos dedos das mãos e dos pés;

• Espasmos musculares;

• Rigidez muscular (sobretudo matinal);

• Hipersensibilidade generalizada à pressão, mudanças de temperatura e a estímulos externos;

• Perturbação do sono (insónias, dificuldade em adormecer, despertares noturnos frequentes, sono não reparador);

• Cefaleias;

• Défices de memória, atenção e concentração/comprometimento cognitivo;

• Depressão/ansiedade/irritabilidade/stresse.

Os sintomas podem variar em intensidade e até mesmo desaparecer e reaparecer de forma esporádica, consoante a hora e o dia, os níveis de stresse e ansiedade ou as mudanças de temperatura.

A fibromialgia “é invisível”, mas os sintomas são reais, e tem consequências psicológicas. Os doentes com Fibromialgia tendem a ter uma autoimagem e perceção da imagem corporal negativas, bem como baixa autoestima. A doença reduz o funcionamento nas esferas física, psicológica e social, o que impacta negativamente o desempenho cognitivo, as relações pessoais (incluindo a sexualidade e a parentalidade), o trabalho e as atividades da vida diária.

Qual o tratamento adequando para a Fibromialgia?

Ainda não é conhecida cura para a Fibromialgia, e também ainda não existe nenhum fármaco específico para a doença. Sendo assim, o tratamento visa não a eliminação dos sintomas, mas o seu controlo/gestão. O tratamento deve ser, por isso, multidisciplinar e orientado por diversos profissionais em simultâneo: médico, psiquiatra, psicólogo, fisioterapeuta – e deve ser adaptado a cada doente e à fase em que a doença se encontra. A Psiquiatria pode ajudar na prescrição de terapêutica farmacológica para o doente lidar com a sintomatologia ansiosa e depressiva, e com as perturbações do sono. A Psicoterapia, por sua vez, poderá ajudar a pessoa na adaptação à vida com a doença, aceitando as suas limitações, assim como no desenvolvimento de estratégias para lidar com a psicopatologia inerente. Os doentes percebem a doença como um distúrbio estigmatizado e invisível, e essa perceção negativa dificulta a sua capacidade de adaptação à mesma. A intervenção psicológica é muito importante para que façam o processo de consciencialização/aceitação.

Apesar da Fibromialgia ter sido reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1990, persiste a desvalorização, que facilmente desencadeia, no doente, sentimentos de culpa, vulnerabilidade, desespero e solidão. É fundamental eliminar o estigma e desconstruir-se a ideia de que estes doentes inventam ou exageram nos sintomas que descrevem. Isto permitirá que recorram, sem receios, a serviços médicos de diagnóstico e tratamento adequados, e que se sintam legitimados nesta doença e nas manifestações que a mesma apresenta.

A Equipa da Psiquiatria Positiva pode ajudar!

Fonte imagem: vecteezy.com