Desejo sexual: existe mesmo diferença entre homens e mulheres?

As diferenças no desejo sexual entre o homem e a mulher são um tema recorrente, tanto na literatura científica, quanto no debate social. Tradicionalmente, acredita-se que os homens apresentam maior desejo sexual do que mulheres, mas é fundamental confirmar se a diferença existe mesmo, e perceber as causas e a sua magnitude. De acordo com as evidências científicas mais recentes, este artigo pretende explorar as principais descobertas sobre o tema, discutir os fatores biológicos, psicológicos e socioculturais, e ainda propor reflexões para além dos estereótipos.

O que diz a ciência sobre o desejo sexual?

Estudos de meta-análise indicam que as mulheres apresentam uma prevalência de desejo sexual reduzido (Low Sexual Desire, LSD) de cerca de 29%, enquanto a prevalência da perturbação de desejo sexual hipoativo (HSDD) é de 12%. No geral, nos homens, a prevalência de disfunção sexual é de 31%, enquanto nas mulheres chega a 41%, sugerindo que as dificuldades relacionadas com o desejo sexual são comuns em ambos os géneros, mas com maior incidência na mulher. No entanto, a magnitude e os fatores associados a essas diferenças variam conforme o método de avaliação e o contexto sociocultural.


Fatores Biológicos

  • Hormonas sexuais: alterações hormonais, como a menopausa na mulher, a andropausa no homem, ou o hipogonadismo (condição médica em que o corpo produz níveis insuficientes de hormonas sexuais), impactam negativamente o desejo sexual;
  • Ciclos hormonais: o desejo sexual feminino pode variar ao longo do ciclo menstrual;
  • Obesidade e saúde física: o excesso de peso e as alterações hormonais associadas à obesidade podem reduzir o desejo sexual, sobretudo no homem. Intervenções para a perda de peso demonstram um aumento do desejo sexual e dos níveis de testosterona;
  • Contracepção hormonal: na mulher, o uso de contraceptivos hormonais pode estar associado à diminuição do desejo sexual, embora os resultados encontrados variem de acordo com o método de avaliação usado e os indivíduos avaliados.

Fatores Psicológicos e Relacionais:

  • Depressão e ansiedade: sintomas depressivos e o stresse diário estão fortemente associados à redução do desejo sexual, especialmente na mulher;
  • Satisfação relacional: a qualidade do relacionamento, a duração da relação e a satisfação sexual são preditores importantes do desejo sexual em ambos os géneros;
  • Uso de antidepressivos: medicamentos como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) podem causar disfunção sexual, afetando o desejo, a excitação e a satisfação, em homens e mulheres.

Fatores Socioculturais:

  • Normas de género: as expectativas sociais e culturais influenciam a expressão do desejo sexual. As mulheres tendem a relatar menos desejo sexual, possivelmente devido à repressão e ao estigma associado à sexualidade feminina;
  • Carga mental e trabalho doméstico: a sobrecarga de tarefas domésticas e de cuidado, frequentemente atribuída à mulher, pode impactar negativamente o desejo sexual, especialmente em contextos em que existem diferenças significativas na dinâmica familiar;
  • Representações dos media: o consumo de pornografia e a objetificação do corpo feminino podem distorcer percepções sobre o desejo sexual e criar expectativas irreais, afetando ambos os géneros – mas com impactos distintos.

Para além dos estereótipos…

A diferença no desejo sexual entre o homem e a mulher é real, mas não pode ser explicada apenas pelos fatores biológicos. Os aspectos psicológicos, relacionais e, sobretudo, socioculturais desempenham um papel central na construção e expressão do desejo sexual.

O desafio está em desconstruir estereótipos, promover uma educação sexual baseada em evidências e criar espaços seguros de diálogo, que respeitem a diversidade das experiências humanas. O desejo sexual é plural, dinâmico e profundamente humano — e deve ser compreendido/debatido em toda a sua complexidade.

A equipa da Psiquiatria Positiva pode ajudar!

Fonte imagem: vecteezy.com