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A COVID-19 continua a ser uma doença nova que desafia a comunidade científica diariamente e a obriga a aprender em tempo real. À medida que a compreensão da doença evoluiu, um dos aspetos constatados foi a possibilidade de pessoas que se curaram da doença ficarem com sequelas a longo prazo. Passados mais de 18 meses desde o diagnóstico do primeiro caso de COVID-19, foram surgindo relatos dos doentes recuperados, referindo sintomas e sinais que persistem semanas a meses após a resolução da infeção aguda.
A fim de dar resposta a estes casos, surge o termo long COVID (inglês) ou COVID longa, que se define como uma condição caracterizada por manifestações clínicas multissistémicas, do foro respiratório, cardiovascular, neurológico, gastrointestinal, renal e/ou músculo-esquelético. Estas surgem habitualmente na fase aguda da infeção ou imediatamente depois, não são explicáveis por um diagnóstico alternativo e persistem além das quatro semanas de doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu oficialmente a COVID longa como uma forma prolongada da doença provocada pelo novo coronavírus, que entre os sintomas mais comuns considera a fadiga, falta de ar e disfunção cognitiva (falta de memória, concentração e “névoa mental”), sintomas que vão para além das doze semanas, e que comprometem significativamente a qualidade de vida e o desempenho profissional. A condição “pós-Covid” ocorre em indivíduos que tiveram infeções pelo novo coronavírus, confirmadas ou prováveis.
NOTA: Foram, e ainda são, usadas outras designações, como síndrome pós-COVID-19 e COVID-19 crónica, mas long COVID parece ser a mais consensual por ter implícito o contínuo de sintomas da fase aguda, sem o corte abrupto sugerido pela “síndrome pós-COVID” e o peso da cronicidade de outros termos.Os investigadores nesta área notaram várias tendências entre os sobreviventes da COVID-19:
Alguns dos sintomas mais relatados observam-se a nível cognitivo – alterações da memória a curto prazo e da capacidade de concentração. O brain fog ou “névoa mental” é um termo utilizado pelos investigadores desta área e aparece associado à COVID longa. Caracteriza-se por um raciocínio mais lento, confuso e menos intuitivo. Relatos de doentes dão como exemplo prático: ter uma conversa e passada meia hora não se lembrarem; estar a fazer um trabalho e não ter qualquer memória de o ter feito; ter de rever e-mails e chamadas para perceber que de facto aconteceram. Dificuldade em focar-se numa ideia, de a transmitir aos outros, de comunicar e de terminar um raciocínio mais complexo.
Surgem ainda na literatura atual outros sintomas: perda de olfato ou paladar, tonturas, zumbido nos ouvidos (acufenos), dores nas articulações e insónia. Os doentes relatam sentir-se frequentemente incapazes de fazer tarefas rotineiras, como ir às compras ou limpar. Para alguns, até assistir a um filme pode ser extenuante. Em todos os casos, é inegável que o contexto pessoal e/ou profissional seja afetado por esta condição médica.
Apesar de ser uma área ainda com muito por explorar, os mecanismos pelas quais a COVID19 causa sintomas resistentes nos sobreviventes ainda não são totalmente compreendidos
Há três tipos de causas que têm sido destacadas: inflamatórias, vasculares e neurológicas. Estes sintomas podem resultar de uma reação “excessiva” do sistema imunitário desencadeada pelo vírus, de infeções resistentes, reinfeção ou de um aumento da produção de autoanticorpos (anticorpos dirigidos ao próprio tecido). O vírus SARS-CoV-2, que provoca a COVID-19, consegue aceder, entrar e viver no sistema nervoso. Como resultado, surgem os sintomas como as perturbações do paladar ou olfato, défice de memória, diminuição da atenção e concentração. Paralelamente, a presença do vírus na mucosa gastrointestinal foi observada em um terço de doentes, submetidos a biópsias quatro meses depois da infeção aguda. Contudo, os investigadores ressalvam que a presença do vírus nos tecidos não é nem condição necessária, nem sinónimo de persistência da doença.
A discussão deste ponto ainda se encontra em aberto, mas são cada vez mais os estudos a serem realizados, com o intuito de encontrar respostas e formas de prevenção da long COVID. Aquilo que se sabe para já é que não foi demonstrada uma relação direta entre a gravidade clínica da doença aguda e o risco da long COVID; e o pressuposto que os doentes com doença crítica têm uma maior probabilidade de desenvolver sintomas persistentes está errado. Ainda, a idade, o sexo masculino e a obesidade, fatores de risco para COVID-19 grave, também não estão associados a risco aumentado de long COVID.
Os dados surgem diariamente, devido à grande afluência de estudos na área e à necessidade de respostas eficazes. A OMS indica que cerca de um quarto das pessoas com COVID-19 sofre de sintomas 4 a 5 semanas após o teste ser positivo; e cerca de 1 em cada 10 apresenta sintomas após 12 semanas ou mais. Os médicos e investigadores apontam para que no mínimo 80 mil doentes venham a sofrer com estes efeitos em Portugal, com base em estudos internacionais que afirmam que 10% dos doentes que tiveram COVID-19 podem ter sequelas e manter sintomas a longo prazo.
Os sintomas podem manifestar-se isoladamente ou associados, podem surgir vários meses após a doença aguda e ter uma evolução cíclica, com períodos de remissão e de recidiva. Poderão ser mais de 96 000 as pessoas afetadas, a maioria numa faixa etária profissionalmente ativa, que necessitarão de cuidados médicos a médio-longo prazo e que podem não conseguir retomar a atividade profissional, devido ao défice funcional causado pela doença.
Atualmente, embora já existam vários testes para diagnosticar a COVID-19, não existe uma forma de comprovar a condição deixada após a infeção, o que gera ansiedade e insegurança na comunidade médica. Segundo os investigadores da Universidade norte-americana Penn State College of Medicine, os resultados atuais recomendam que os governos, as organizações e os profissionais de 4 saúde pública se prepararem para o grande número de recuperados de COVID-19 que “precisarão de cuidados para uma variedade de sintomas psicológicos e físicos”. Também as perturbações psiquiátricas e cognitivas irão continuar a surgir neste contexto, tais como a depressão, ansiedade e perturbação de stress pós-traumático, em indivíduos saudáveis antes de terem COVID-19, o que nos leva a crer que a batalha contra a COVID-19 não termina com a recuperação da infeção aguda.
É aconselhado que médicos que acompanham estes doentes invistam na colheita, registo e organização de dados, na promoção e criação de plataformas nacionais de registo e na organização de grupos de trabalho que facilitem a troca de informações. A inclusão de doentes com long COVID em ensaios clínicos é já uma prioridade reconhecida por alguns países e centros de investigação. Destaca-se o trabalho da OMS e o programa SARS-CoV-2 Recovery Cohort, uma iniciativa do National Institutes of Health, que inclui estudos prospetivos que pretendem avaliar os efeitos da infeção a longo prazo, assim como acompanhar a trajetória de sintomas no tempo.
No entanto, as medidas individuais de proteção no dia a dia e a vacinação continuam a ser os nossos melhores aliados para prevenir a infeção e consequentemente reduzir a possibilidade da extensão dos sintomas, a COVID longa.
De acordo com os relatos de doentes da COVID longa, “a pior coisa é viver com a incerteza de não saber quando ou se se vai recuperar”.
Um Psicólogo e/ou um Psiquiatra podem ajudar!
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