Como explicar o luto às crianças?

Falar de morte e perda aos mais novos é uma tarefa delicada e difícil, porém imprescindível para que elas consigam fazer o luto, e dessa forma ajudá-las a lidar com a dor e o sofrimento resultantes de uma perda de alguém significativo.

A morte é um processo natural que faz parte integrante da vida e, em alguma altura, as crianças irão confrontar-se com isso, que obrigará a um ajustamento. Elas sentem as emoções dos adultos, ainda que as possam expressar de formas diferentes, sobretudo em função da sua idade, desenvolvimento cognitivo e vivências prévias. Dependendo destes 3 fatores, a classificação abaixo serve apenas como um guia:

Até os 3 anos: as crianças têm uma compreensão limitada da permanência da morte – a criança percebe a morte como ausência e falta e pode pensar que é algo temporário.

Entre os 3 e 5 anos: a criança ainda mistura muito fantasia e realidade, podendo criar teorias próprias ou sentir-se culpada em relação à morte de alguém próximo. Ela percebe que os adultos estão a sofrer e associa a morte a algo triste.

Entre os 5 e 8 anos: a criança já entende que o corpo pode “parar de funcionar” e tem mais clareza sobre o “para sempre” ou “nunca mais” e pode fazer perguntas mais profundas sobre as crenças da família.

Entre os 8 e 10 anos: a compreensão está mais clara, podendo a criança ficar intrigada com a morte. Pode haver dificuldade em identificar e expressar sentimentos.

A partir dos 10 anos: a criança já entende melhor conceitos abstratos e por isso começa a integrar a permanência da morte como um processo irrevisível. Começa a expressar a sua dor pela perda e a compreender o que os adultos possam estar, igualmente, a sentir.

Contudo, independentemente da idade da criança, é importante integrá-la nos processos de luto e rituais de perda. Deixamos algumas orientações importantes:

1.Apresentar o tema: a perda de uma pessoa querida faz parte da vida. Apresentar o tema à criança antes que ela o vivencie, facilita a assimilação gradual da finitude da vida (ex.: filme do rei leão). A linguagem deve ser simples, utilizando o verbo morrer, mas salientar que a morte não é resultado das suas ações ou pensamentos.

2.Transparência e honestidade: é importante explicar que a morte é um processo natural dos seres vivos (pessoas, animais e plantas) e ter cuidado com metáforas sobre “viagens”, por exemplo, para não gerar confusão nos conceitos e/ou criar expectativas que não se concretizem. Chorar à frente das crianças também é importante, normalizando as emoções de tristeza e preocupação.

3.Não é preciso saber todas as respostas: compartilhar dúvidas ou crenças é uma forma saudável de elaborar e acolher os sentimentos. Não explicar nem mais nem menos do que aquilo que a criança pergunta pode também ser uma boa estratégia.

4.Rituais de despedida: é importante dar oportunidade à criança de participar nos rituais de despedida (como velórios e funerais) permitindo que se ausentem sempre que elas quiserem.

5.Entender o sentimento e as manifestações físicas do luto: criar um contexto seguro, de conforto e partilha de afeto. Abrir espaço para a criança expressar os sentimentos (raiva, tristeza, medo, culpa ou ansiedade) e as suas reações (choro, fraqueza, náuseas, tremores, aperto no peito, etc.). Deixar a criança falar livremente sobre a forma como está a perceber o que está a acontecer é fundamental.

6.Dar tempo ao luto infantil: o sentimento de perda pode manifestar-se em momentos diferentes para adultos e crianças. É importante ficar atento às manifestações não explícitas do luto, como alterações do comportamento, alterações fisiológicas (sono, apetite, dores de barriga), manifestações emocionais (dor, sofrimento, ansiedade) e cognitivas (preocupações, dúvidas).

7.Estimular boas lembranças: Lembrar histórias e rever fotografias é uma forma de mostrar à criança que a pessoa que morreu poderá não estar mais fisicamente presente, mas que pode continuar a fazer parte da memória de cada um.

Em suma, é fundamental não bloquear o processo de luto da criança, mas sim criar um ambiente pré e pós crise seguro e de conforto, de forma a promover a estabilidade e o controlo da criança. Em todo o caso, a criança e a família, podem necessitar de ajuda de profissionais especializados, para que tenham tempo e espaço para a dor, a aceitação e a renovação.

A equipa da Psiquiatria Positiva pode ajudar!